O Mundial de 1982, em Espanha, mostrou que o futebol é injusto. O Brasil era o grande favorito à conquista do tetracampeonato mas acabou por cair aos pés da Itália. Uma selecção histórica e imortal, que contava com Falcão, Zico, Sócrates e era comandada por Telê Santana.

Artistas

Telê Santana assumiu o comando técnico do Brasil em 1980, o tetra era a missão.

O técnico brasileiro tentou implementar o seu modelo de jogo, baseado num futebol perfumado e com toques de samba. Telê era adepto assumido pela arte do futebol e para isso contava com a ajuda de jogadores com uma grande capacidade técnica.

Em 1981, a selecção dirigida por Telê Santana rumou até ao velho continente para defrontar França, Inglaterra e Alemanha, em jogos de carácter amigável. Nesses três encontros, o Brasil foi mais forte e levou a melhor sobre as selecções europeias. As vitórias contra selecções de peso e as exibições com nota artística fizeram com que o Brasil partisse para o Mundial de 1982 como favorito, num Mundial que ficou marcado pela presença de 24 países, inédito na altura.

Na primeira fase do Mundial, o Grupo F foi composto pelo Brasil, União Soviética, Escócia e Nova Zelândia. Os canarinhos alcançaram 6 pontos, 10 golos marcados e apenas 2 sofridos. 2-1 sobre a União Soviética, 4-1 sobre a Escócia e 4-0 sobre a Nova Zelândia, carimbando a passagem à próxima fase.

Na segunda fase, o Brasil contou com a companhia da Itália e da Argentina no Grupo 3. Nesta fase, apenas a melhor selecção de cada grupo iria garantir um lugar nas meias-finais, mas poucos duvidavam que o Brasil ficasse de fora.

No primeiro jogo da 2ª fase de grupos, o Brasil tinha pela frente a, então campeã mundial, Argentina de Maradona, Kempes, Ardiles e Passarella. O Brasil venceu sem contestação o seu rival por 3-1. A Itália já tinha derrotado a Argentina, o que fazia com que o jogo que opunha Brasil e Itália fosse determinante para ambas as selecções.

Tragédia Rossiana

Selecção do Brasil 2 - 3 Selecção de Itália 1982

E quando tudo parecia caminhar para a glória da selecção brasileira, eis que lhes surge, no caminho, a selecção italiana e um desconhecido Paolo Rossi

Brasil e Itália somavam 2 pontos cada um, na época em que uma vitória ainda valia dois pontos, e à canarinha bastava um empate para seguir em frente. Duas selecções contrárias, de um lado uma selecção com um futebol requintado e elegante e do outro uma squadra azzurra cautelosa, defensiva e matreira. O futebol defensivo acabou por levar a melhor sobre o futebol artístico e com cheiro a samba.

O jogo ficou marcado pelo aparecimento de Paolo Rossi que até ao jogo contra o Brasil não tinha apontado nenhum golo. Neste desafio, o avançado da Juventus estava destinado a ser o homem do jogo, ao apontar os três golos de Itália na vitória por 3-2 sobre o Brasil. Os azzurri entraram com marcação homem-a-homem, e coube a Gentille travar Zico, anulando assim os processos ofensivos do Brasil. Sócrates e Éder também foram alvo de marcação apertada. A selecção comandada por Enzo Bearzot preocupou-se em fechar todos os caminhos da baliza defendida por Zoff, cobrindo bem os espaços e mantendo os equilíbrios defensivos. O Brasil desesperou e provocou inúmeros erros defensivos que foram aproveitados pela Itália que viria a sagrar-se campeã mundial frente à Alemanha. Rossi provocou uma tragédia, num duelo táctico onde a Itália soube ser fiel à sua estratégia e derrotou o futebol romântico e vistoso do Brasil.

Mundo Encantado

O Brasil perdeu a Copa mas conquistou o Mundo.

Passados mais de 30 anos, muitos são os adeptos de futebol que consideram a selecção de 1982 como a melhor equipa que já viram jogar. Classe, elegância, arte, alegria, música e ambição. Tudo isto resume o futebol romântico, veloz, eficaz, emotivo e apaixonante do Brasil.

Em 1982, o Mundo viu uma selecção dotada tecnicamente que contava com jogadores habilidosos e de grande capacidade ofensiva.

Waldir Peres foi o guarda-redes eleito para defender a baliza da canarinha, e fê-lo com grande segurança.

Selecção do Brasil 2 - 1 União Soviética 1982

É verdade que nem sempre ganham os melhores. Esta selecção brasileira de 1982, que perdeu o título mundial para a Selecção de Itália é, ainda hoje, uma das melhores equipas de sempre

Júnior foi o lateral esquerdo escolhido por Telê. O esquerdino integrava bem o ataque, dispunha de uma grande capacidade técnica e demonstrava uma capacidade física invejável. Júnior voava como um canarinho, até pelos seus dotes musicais. Leandro era o dono da lateral direita, visão de jogo e capacidade técnica eram algumas das características que evidenciava. Na falta de um extremo-direito puro, coube a Leandro a tarefa de fazer o corredor direito. Óscar e Luizinho formavam o eixo da defesa, o primeiro jogava mais fixo e Luizinho subia no terreno e criava boas ocasiões. Um eixo sólido e que impunha respeito.

Cerezo era um médio de contenção de grande qualidade defensiva mas acabou por manchar a sua imagem depois da má exibição frente à Itália. Falcão foi um dos melhores jogadores do futebol brasileiro e mundial. O verdadeiro motor da equipa canarinha. Raras as vezes em que falhou um passe, possuía uma excelente visão de jogo e tinha ainda uma grande facilidade para armar o remate. Sócrates foi o cérebro da equipa. O Doutor foi o líder da campanha de 1982, actuando como falso extremo direito. Romântico, artístico e elegante são alguns sinónimos do capitão brasileiro.

Zico é considerado o melhor 10 que o Brasil já viu, desafiava os adversários e impunha dribles incomuns que aliava à sua visão de jogo e precisão de passes e livres. Éder jogava como extremo esquerdo, onde tinha como movimento preferido as suas diagonais, autor de um potente remate e cumpridor da sua função. Chulapa ganhou o seu espaço depois da lesão de Careca, mas só apontou dois golos. Foi a estrela que faltou no desenho de Telê Santana que, mesmo assim, soube potencializar o Brasil e montar uma selecção com um elevado nível de entrosamento, fruto da sua forte aposta em treinos de conjunto.

A escrita é insuficiente para que o leitor consiga contemplar o futebol artístico, elegante, rápido e eficiente do Brasil de 1982.

Para a história fica que a canarinho voou, deslumbrou mas não ganhou.

Boas Apostas!