Sim, ainda é cedo para certezas, mas os caminhos estão feitos. Só uma hecatombe poderá alterar as trajectórias.
Mas para já, o que parece, é que o SL Benfica está em vias de conseguir quase tudo e, por outro lado, o FC Porto está em vias de não conseguir nada. E, na grande maioria das vezes, o que parece, é.
Olhando para Agosto passado, Agosto de 2014, não seria nada disto o que se poderia prever. O início da temporada de 2014-2015 prometia outras certezas. Que depressa se tornaram incertezas ou, pelo menos, dúvidas.
O SL Benfica estava a destruir uma equipa campeã para poder realizar dinheiro. O FC Porto estava a construir uma equipa que se queria campeã nas mãos da grande aposta catalã, Julen Lopetegui, discípulo de Pep Guardiola e do seu tiki-taka. O Sporting CP, ansioso por ganhar o título, nas palavras do seu presidente, cedo se descobriu que ainda não tinha corpo para investir de peito feito contra os outros dois rivais.
Afinal, as certezas confirmaram-se. O SL Benfica desbaratou mesmo uma equipa campeã, o FC Porto construiu uma equipa para ser campeã e o Sporting CP ainda tem um longo caminho pela frente. Mas houve outros factores.
A Caminho de Quase Tudo
Depois do ano em que ganhou quase tudo e acabou por não ganhar nada, a temporada do golo de Kelvin para lá dos 90′, Jorge Jesus tornou-se avisado.
E por mais que se acuse o treinador dos encarnados de se retrair em jogos importantes, como foi agora o caso, na Luz, contra o FC Porto, adversário directo na luta pelo título, a verdade é que Jorge Jesus se tornou pragmático e, se para ganhar um título tiver de prescindir doutros e de jogar um futebol menos bonito, Jorge Jesus não precisa de pensar muito.
Com uma equipa campeã desfeita, com muito jogadores a chegarem tarde e outros, tardíssimo, Jorge Jesus tardou em conseguir montar uma equipa à sua imagem e semelhança, como, aliás, o vem fazendo desde que chegou ao SL Benfica.

Naquele que pode ter sido o último campeonato de águia ao peito, Nico Gaitán foi um dos grandes responsáveis pela possível vitória no campeonato
Sabendo dos problemas que iria enfrentar, e percebendo logo, na Liga dos Campeões, que não tinha equipa para mais (e é aqui que muitos discordam de Jorge Jesus), cedo optou por deixar cair a Liga dos Campeões e agarrou-se aos resultados da Primeira Liga como cão a bofe, aproveitando os vastos deslizes do FC Porto em constantes experiências.
Os pontos amealhados desde o início do campeonato permitiram que o SL Benfica tenha vindo a liderar a Primeira Liga quase desde o seu início, mesmo com tantas carências e faltas e falhas. Jonas chegou tarde. Samaris demorou a entrar no esquema habitual de Jorge Jesus. Júlio César passou muito tempo lesionado. Lima em crise de golos. Sálvio e Nico Gaitán com algumas mazelas. Enzo Pérez de saída a meio do campeonato. Foram eliminados da Taça de Portugal, afastados da Liga dos Campeões e nem à Liga Europa foram. E no entanto…
E no entanto, a 3 jornadas do fim do campeonato, o SL Benfica lidera a Primeira Liga, a 3 pontos de distância do FC Porto, e com uma única saída a Guimarães, com o Vitória local. E no entanto, o SL Benfica está na final da Taça da Liga, juntamente com o Marítimo. E no entanto, o SL Benfica já ganhou a Supertaça Cândido de Oliveira, no início da época, ao Rio Ave. Afinal, e no entanto, o SL Benfica pode vencer este ano o mesmo que no ano passado: 3 troféus. Muita coisa, não tudo, mas bastante para uma equipa que se queria em crise no início da temporada com a quantidade de jogadores de saída.
Com tudo o que se poderá criticar, o grande mérito destas vitórias é do treinador encarnado, Jorge Jesus. Pragmático, percebeu a importância da ganhar o bi-campeonato.
Numa altura em que se pondera a continuidade, ou não, de Jorge Jesus na Luz, parece ser evidente, para um e para outro, que o melhor para ambas as partes é a continuidade. Com tudo o que de mal acarreta, para o clube e para o treinador. Mas o que cada um deles (clube e treinador) pode ganhar, é superior ao que podem perder.
E chegou, talvez, a altura de Jorge Jesus exigir outro patamar europeu para o SL Benfica.
A Caminho de Nada
Muito vibrou o FC Porto quando, num milagre de Kelvin, os dragões ganharam o campeonato ao SL Benfica, no Dragão, já em tempo de descontos, levando Jorge Jesus a ajoelhar-se em pleno relvado, quando tudo se lhe escapou entre os dedos das mãos.
Esse campeonato serviu de lição a Jorge Jesus. Mas Julen Lopetegui não estava cá. E, pelos vistos, ninguém lhe contou a história.
Só assim se percebe que, no início da temporada, o treinador dos dragões andasse descansado a fazer experiências, como se o campeonato não estivesse a decorrer. Ou então julgava que o tempo, grande, do campeonato, jogava a seu favor. Erros.

O FC Porto que foi ganhar por 2 a 0 a Setúbal, já é uma equipa descrente e desmoralizada
Hoje o FC Porto está a 3 pontos atrás do SL Benfica. Poder-se-ia dizer que são os 3 pontos que Lima, com 2 golos, foi ganhar, para o SL Benfica, ao Estádio do Dragão, no jogo da primeira volta. Mas não. Estes 3 pontos foram pontos desperdiçados, pelo treinador portista, quando não sabia como montar uma equipa inteiramente composta ao seu gosto.
Poucos serão os treinadores quase sem currículo, a quem dão carta branca para a construção de uma equipa quase de raiz. Foi o que o FC Porto deu a Julen Lopetegui. E nunca o FC Porto teve tantos jogadores espanhóis na sua equipa. Teve-os esta temporada, uns por aquisição outros por empréstimo, o que se quis, com dinheiro a rodos, mas com resultados que não acompanharam esses gastos.
O FC Porto teve ainda, e mesmo depois do grande desastre de Munique, a possibilidade de apanhar o rival no jogo da Luz, até pelo futebol praticado pelo SL Benfica, mas não foi capaz. Este FC Porto de Julen Lopetegui não carrega a força portista que foi, durante anos, uma sua imagem de marca.
Agora, à distância de 3 pontos, com 3 jogos para terminar a temporada, e ainda com uma difícil saída ao Restelo para defrontar o Belenenses, e depois do que se viu em Setúbal, não se espera desta equipa a capacidade para lutar até ao fim, por já não acreditar nem tendo ninguém que lhes faça acreditar nessa possibilidade.
A Julen Lopetegui, que pôde ter tudo o que quis e que se acreditou que poderia conquistar algumas coisas, vai chegar ao final da temporada sem ter conquistado o que quer que fosse.
E se se pode pensar que este foi só o primeiro ano de Lopetegui em Portugal, que na próxima época estará avisado, é de dizer que para a próxima época já não terá, provavelmente, Jackson Martinez, o abono de família, assim com já não terá Danilo, e muito dificilmente contará com Ricardo Quaresma, que lhe desatou muitos nós.
É queJorge Jesus, se continuar de águia ao peito, já terá, de novo, uma equipa mais próxima daquilo que deseja, porque para além de Nico Gaitán, mais ninguém deverá deixar a Luz.
Boas Apostas!


